Texto Base para Aula 01: Do Mercantilismo ao Capitalismo
O estudo da Geografia Econômica e Social exige a compreensão dos sistemas que moldaram e continuam a moldar o espaço terrestre, a produção de riquezas e a distribuição populacional. A transição do Feudalismo para o Capitalismo foi um processo longo e complexo, com uma fase intermediária crucial: o Mercantilismo. Essa jornada histórica, que se estende dos séculos XV ao XXI, transformou radicalmente a organização social, política e, principalmente, econômica do planeta.
I. O Mercantilismo: A Gênese do Capitalismo (Séculos XV ao XVIII)
O Mercantilismo é um conjunto de práticas econômicas e políticas adotadas pelas monarquias absolutistas europeias (os chamados Estados Nacionais Modernos) durante a Idade Moderna. Ele é frequentemente chamado de Capitalismo Comercial e é considerado a fase de transição entre o sistema feudal e o capitalismo em sua forma madura.
Seu objetivo principal era o enriquecimento do Estado (o Reino) por meio da acumulação de metais preciosos e do domínio comercial.
1. Características Chave do Mercantilismo:
Intervencionismo Estatal: O Estado (o rei) tinha forte controle e intervenção sobre a economia, regulando o comércio e a produção manufatureira para garantir os interesses nacionais.
Metalismo: A riqueza de uma nação era medida pela quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que ela possuía. Isso incentivou a exploração colonial na América, como visto em Portugal e Espanha.
Balança Comercial Favorável: O objetivo era exportar mais produtos (vender) do que importar (comprar), garantindo que a diferença (o lucro) entrasse no país na forma de metais preciosos.
Protecionismo: O Estado protegia a produção e o comércio nacional, elevando impostos sobre produtos importados (tarifas alfandegárias) para torná-los mais caros e menos competitivos.
Pacto Colonial (Monopólio): As colônias eram obrigadas a comerciar exclusivamente com suas metrópoles, fornecendo matérias-primas e consumindo produtos manufaturados metropolitanos. Essa prática garantiu a Acumulação Primitiva de Capital, essencial para o surgimento do capitalismo posterior.
II. O Advento do Capitalismo e Suas Fases
O Capitalismo é o sistema socioeconômico dominante no mundo atual. Ele se baseia na propriedade privada dos meios de produção, na busca por lucro e no trabalho assalariado. Seu surgimento e consolidação estão intrinsecamente ligados ao crescimento da burguesia e das revoluções burguesas, como a Revolução Inglesa e a Revolução Francesa.
Didaticamente, o Capitalismo é dividido em três (ou, para alguns autores, quatro) grandes fases, cada uma marcada por uma revolução tecnológica ou uma mudança na estrutura do poder econômico:
A. 1ª Fase: Capitalismo Comercial (Séculos XV ao XVIII)
É a fase do Mercantilismo, já detalhada. O foco da acumulação de riqueza estava na troca, no comércio e na exploração colonial. O capital era predominantemente mercantil.
B. 2ª Fase: Capitalismo Industrial (Séculos XVIII e XIX)
Período Marcante: Início com a Primeira Revolução Industrial (Inglaterra, meados do século XVIII).
Base Econômica: A fonte primária de riqueza e poder deixa de ser apenas o comércio e passa a ser a produção em massa nas fábricas, utilizando máquinas a vapor e o carvão mineral.
Princípio Dominante: O Liberalismo Econômico, defendido por Adam Smith, que prega a mínima intervenção do Estado na economia (o oposto do Mercantilismo). A livre concorrência e a lei da oferta e da procura tornam-se os motores do mercado.
Transformação Geográfica: O crescimento das cidades (urbanização), a expansão das ferrovias e a intensa busca por matérias-primas e mercados consumidores, levando ao Imperialismo e a novas formas de dominação colonial na África e na Ásia.
C. 3ª Fase: Capitalismo Financeiro (Séculos XX até a década de 1970/1980)
Período Marcante: Consolidação após a Segunda Revolução Industrial e o pós-Crise de 1929.
Base Econômica: O controle da economia passa das mãos dos industriais para a união do Capital Bancário com o Capital Industrial (daí o termo "financeiro").
Estruturas de Poder: Surgimento de grandes corporações, como Holdings, Cartéis e Trustes, que dominam o mercado e buscam o monopólio ou oligopólio. O Estado volta a intervir, em parte, com políticas como o Keynesianismo (pós-1929) para regular e proteger a economia.
Atuação Global: Fortalecimento das empresas multinacionais ou transnacionais, que instalam filiais em diversos países para reduzir custos de produção (mão de obra, impostos).
D. 4ª Fase: Capitalismo Informacional (A partir da década de 1980 - Quarta Revolução Industrial)
Período Marcante: Associado à Terceira e Quarta Revolução Industrial (Revolução Técnico-Científico-Informacional).
Base Econômica: O principal fator de produção e acumulação de riqueza é o Conhecimento, a Informação e a Tecnologia (internet, fibra óptica, robótica, biotecnologia). O capital circula globalmente em segundos.
Organização: Domínio da Globalização e intensificação do Neoliberalismo, que prega a privatização de empresas estatais, a abertura total dos mercados e a mínima intervenção do Estado.
Transformação Geográfica: A distância é reduzida pela tecnologia, criando uma rede mundial de fluxos de mercadorias, informações e capitais. O espaço geográfico é reestruturado em função da velocidade da informação.
III. Implicações Geográficas da Transição
A passagem do Mercantilismo para o Capitalismo e suas fases gerou transformações geográficas profundas:
Urbanização: A Revolução Industrial concentrou a produção nas cidades, causando um êxodo rural maciço e o crescimento desordenado dos centros urbanos, com graves problemas de moradia e saneamento.
Divisão Internacional do Trabalho (DIT): A DIT foi se alterando para atender às demandas do sistema.
Mercantilismo: Colônias (matérias-primas e metais) e Metrópoles (produtos manufaturados).
Capitalismo Industrial: Países industrializados (produtos industriais) e Países não-industrializados (matérias-primas e alimentos).
Capitalismo Financeiro/Informacional: Países desenvolvidos (tecnologia, finanças) e Países em desenvolvimento (produção industrial e mão de obra barata).
Desigualdade Socioespacial: A busca incessante por lucro, marca fundamental do Capitalismo, gerou uma concentração de renda cada vez maior. A riqueza se acumula em certos países (Norte Global) e classes sociais, enquanto a maioria da população e os países do Sul Global enfrentam problemas de pobreza e acesso limitado a serviços básicos.
A compreensão dessas fases e de suas características é essencial para analisar o mapa-múndi atual, dominado por um sistema que se transformou do acúmulo de ouro e prata no século XVI à circulação instantânea de bytes de informação no século XXI.
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