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Texto Base para Aula 02: O Capitalismo e Suas Fases

O Capitalismo é muito mais do que um sistema econômico; é um modo de organização social, político e espacial que se consolidou após o declínio do feudalismo na Europa. Suas diretrizes básicas são a propriedade privada dos meios de produção, o trabalho assalariado e, sobretudo, a busca incessante pelo lucro e pela acumulação de capital. Para fins didáticos e geográficos, sua evolução é dividida em fases históricas que correspondem a grandes transformações tecnológicas e na Divisão Internacional do Trabalho (DIT).

A transição entre essas fases não é brusca, mas sim um processo gradual impulsionado por revoluções tecnológicas e crises econômicas. Entender cada etapa é fundamental para compreender a distribuição de poder e riqueza no mundo de hoje.

I. Capitalismo Comercial (Séculos XV ao XVIII)

Esta fase é frequentemente chamada de Mercantilismo ou Pré-Capitalismo. O foco principal não era a produção industrial, que ainda estava em estágio inicial (manufatura), mas sim a acumulação de riquezas através do comércio e da expansão territorial.

Base do Poder: A riqueza era medida pela posse de metais preciosos (Metalismo).

Modelo Político/Econômico: Absolutismo e Intervenção Estatal (o rei controlava o comércio para garantir a Balança Comercial Favorável).

Transformação Geográfica: As Grandes Navegações e o Pacto Colonial estabeleceram uma primeira e rudimentar Divisão Internacional do Trabalho, onde a metrópole explorava as colônias, garantindo a Acumulação Primitiva de Capital que financiaria a fase seguinte.

II. Capitalismo Industrial (Séculos XVIII e XIX)

O Capitalismo Industrial marca a consolidação definitiva do sistema e é impulsionado pela Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra no século XVIII. A fonte de riqueza muda radicalmente: o comércio de especiarias e metais preciosos dá lugar à produção em larga escala nas fábricas.

1. A Era da Produção em Massa

Base do Poder: A máquina a vapor e o uso do carvão mineral e do ferro para a produção em massa.

Modelo Econômico: O Liberalismo Clássico (Adam Smith). A ideologia era a do laissez-faire (deixar fazer), defendendo a livre concorrência e a não intervenção do Estado na economia, acreditando que a "mão invisível" do mercado regularia tudo.

Transformação Geográfica (Urbanização e Imperialismo):

Urbanização: O surgimento das fábricas provocou um intenso Êxodo Rural, inchando as cidades e criando a classe operária (o proletariado).

Imperialismo: A necessidade de buscar matérias-primas (algodão, borracha) e mercados consumidores para os produtos industrializados levou as potências europeias a uma nova onda de colonização, principalmente na África e na Ásia (neocolonialismo).

III. Capitalismo Financeiro ou Monopolista (Século XX em diante)

O século XX assistiu a uma nova mudança no motor do Capitalismo, com a ascensão do Capital Financeiro. Essa fase se consolida após a Segunda Revolução Industrial e, principalmente, após a Crise de 1929, que forçou uma nova intervenção estatal na economia.

1. O Domínio dos Monopólios e Bancos

Base do Poder: A união e a interdependência entre o Capital Industrial e o Capital Bancário (financeiro). Os bancos passam a controlar e investir nas grandes indústrias, e a especulação financeira (ações, títulos) se torna um grande motor de lucro.

Estruturas Monopolistas (Cartéis, Trustes e Holdings): A intensa concorrência levou à formação de grandes corporações com o objetivo de dominar o mercado:

Truste: Fusão de várias empresas que antes eram concorrentes para controlar um setor (monopólio).

Cartel: Acordo secreto entre empresas do mesmo setor para fixar preços ou dividir mercados (oligopólio).

Holding: Uma empresa matriz que detém a maior parte das ações de outras empresas, controlando-as administrativamente e financeiramente.

Modelo Econômico (Keynesianismo): Após 1929, o economista John Maynard Keynes defendeu a intervenção do Estado para gerar empregos e garantir o Estado de Bem-Estar Social em países desenvolvidos, regulando o capitalismo e evitando crises.

Empresas Transnacionais: As grandes corporações passam a atuar em diversos países (matriz em um, filiais em outros), buscando mão de obra barata, incentivos fiscais e proximidade dos mercados consumidores.

IV. Capitalismo Informacional (A Fase Atual)

Muitos geógrafos consideram a fase atual como uma evolução do Capitalismo Financeiro, mas com uma base de produção e circulação de capital totalmente diferente, marcada pela Revolução Técnico-Científico-Informacional (ou Terceira/Quarta Revolução Industrial), iniciada a partir da década de 1970/80.

1. O Capital baseado no Conhecimento

Base do Poder: O principal fator de produção e riqueza não é mais o carvão (Industrial) ou o dinheiro físico (Financeiro), mas sim o Conhecimento, a Tecnologia (softwares, biotecnologia, robótica) e a Informação, que circula instantaneamente pelo planeta (os bytes).

Modelo Econômico (Neoliberalismo): A partir da década de 1980, o Neoliberalismo surge como a ideologia dominante, pregando a mínima intervenção do Estado (retorno ao Liberalismo, mas em escala global). Isso se manifesta na privatização de empresas estatais, na flexibilização de leis trabalhistas e na abertura total dos mercados (redução de impostos de importação).

Globalização: O Capitalismo Informacional é indissociável da Globalização. A tecnologia de comunicação e transporte (internet, satélites, aviões cargueiros) permitiu que as empresas transnacionais atuassem em uma rede mundial, integrando a economia global.

Nova DIT: A Divisão Internacional do Trabalho se refina:

Países Desenvolvidos (Centro): Dominam a tecnologia de ponta, o capital financeiro e as sedes de transnacionais.

Países em Desenvolvimento/Industrializados (Periferia Semi-Industrializada): Oferecem mão de obra e energia mais baratas para a produção industrial e recebem filiais das transnacionais.

Países Subdesenvolvidos (Periferia): Continuam a fornecer matérias-primas e alimentos.

Apesar dos avanços tecnológicos, o sistema capitalista mantém uma característica central: a profunda desigualdade socioespacial. A riqueza gerada em cada uma dessas fases tende a se concentrar em poucas mãos e em poucos países, criando a persistente dicotomia entre países ricos e pobres (ou Norte e Sul Global).

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